Boa noite, Marcos e eu temos um blog - Letras de Dois - onde colocamos nossos poemas: individuais e em parceria, na esperança de que um dia essas letras se inscrevam em algum livro de papel ou digital. Há algum tempo fizemos Ancestral. Resolvi postar aqui porque diz um pouco da nossa cumplicidade inesperada. Ancestral
Tua vida chega antes do meu sentido
Vago fundo no leito da tua história, minha sina.
Retiro meu olhar do teu
E vejo o olhar dele em ti.
Num mundo sem letras – a miragem
Brilha, o nome de teu pai.
Vejo minha senha,
Tua carne é minha travessia
Entre o-que-é e o-que-não-é. Ele!
Eis o teu amigo. Pele, cor e fogo.
Meu caboclo do pescoço grosso!
Tua coragem é meu sorriso.
Abro e fecho tuas cortinas.
Minha pálpebra é teu abrigo.
Tateio meu amanhã na tua fronteira
– memória e esquecimento.
Voltamos nossas costas para o futuro.
Meu medo vibra.
Tua mão possui a minha no real da terra-a-terra
Caminhamos para o começo.
Hesito no vento.
Teu calor movimenta meu ar, nossa tarde estremece
Sob as bênçãos do teu passado.
E a razão vacila.
Se agarro teu chão, tropeço no meu enigma
Aninhado na ilha arcaica, solo rústico dos meus xamãs.
Meu culto é teu mito
Esticado na linha da ancestral materna ,
Minha avó e sua filha, minha mãe, desatam o nó.
Sou da terra que fizeste tua no vigor da juventude
Nas ruas da tua Canaã, sou a estranha
Destas roças onde laças nós dois que nos sabemos sós.
Ele nos vela.