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Nós

Você me deu um nome Que sempre quis seu! Minha cachorra fox-paulistinha, Você chamou de boy Até o dia em que ela se perdeu Para me consolar, Leu Monteiro Lobato, com voz rouca, Me apresentou Jorge Amado, Me deu Lord - um irlandês peludo Me deitou num remanso, Disse que Proust era um chato E convenceu o dog : era ele a minha babá Você me educou debaixo de sol, Estimulou alpinismo, Mostrou sua paixão pela esgrima Suas espadas encostadas na máscara de luta, Espreitando no fundo do armário, Foram meu horror bem cedo Eu sempre quis cama, lua, O frio das manhãs sob as cobertas. Quando nos elogiávamos, desconfio, Ambas disfarçávamos. Você pisava a praia toda, todas as tardes E no mar jamais entrava. Eu adorava uma onda salgada e nua de areia Escorpioa, signo de água, eu fluía Você terra taurina, represava. Opostas complementares, duas insanas, Adorávamos nos provocar Cabelos branquíssimos, Cigarros amarelando seus dedos, Pés descalços, você morava no meio do mato. Eu, no asfalto, rodeada de portas e sapatos, Encastelava-me no décimo sétimo andar Mas, naquela madrugadinha gelada em Sampa, Você tossiu fundo. Seu olhar de menina renasceu no meu colo, Há muito tempo sem caber mais no seu. Quando nos entendemos, Você morreu Ps: Inês, assim fomos: minha mãe e eu. Rosa dos ventos, ideal areal real;))

Seres

Mãe, areia mãe
Ideal areal real
Engenheira de castelos arenosos
Que te limitará?
Pai, neblina envolvente
incolor, invisível, transparente
Canção vaporosa no peito calado
que insiste em amar
Irmãos, ventos sonoros
dos quatro quadrantes
Rosa dos ventos girante
Maresia preguiçosa
Doces companhias
assanham meus cabelos
e a areia do mar
Filhos incandescentes
Tochas acessas chutando bolas
Pés de fogo ligeiro
Labaredas no ar
Fogo que inflama tanta paixão
no peito da mãe
Homem de aquário
Límpido, puro líquido
Escorrega quieto pelas encostas
molhadas dos corações
Mulher, gravidez gravitacional
Força que dá à luz
e suga toda claridade
Buraco negro.
Mal-entendido universal.

Transformando idéias em ações

Talvez o excesso de autocrítica seja o sentimento mais cruel para os seres humanos. Pessoas muito inteligentes tendem a ter dificuldades em realizar o que imaginam, desejam e pensam porque sentem-se inibidas pelas críticas em potencial. E acontece que as pessoas têm boas idéias, mas resolvem crivá-las de testes e senões antes de pô-las em prática, quando resolvem agir suas idéias já foram pensadas por outras pessoas, e seu assunto não é mais original. A crítica nos leva também a um medo de fracassar, e fracassamos justamente por isso. O fracasso de não tentar fazer é esmagador, deixa a autoestima do cidadão muito baixa. É importante realizar. Acrei interessante a busca desenfreada dos últimos anos que o Luiz teve por criar um coral de mil vozes. Ainda não conseguiu, mas ninguém pode negar seu empreendimento, seus resultados. Achei legal quando o Rodolfo publicou seu primeiro livro. E o segundo lhe rendeu Beatriz, e uma foto com Ariano Suassuna. Impressionante a capacidade do Hilber em fazer coisas, construir, dedicar-se a algo e realizar. Lembro quando forrou a cozinha de sua casa, aos poucos, passo a passo, com persistência e dedicação. Apenas um exemplo do quanto é capaz de fazer. Gostava de ver os álbus de fotos e as longas redações que a Inês fazia. Muito legal, muito bonito. Do Héber vi a insistência em saltar de pára-quedas. Lembro do primeiro salto em queda livre do meu irmão, foi muito legal chegar no aero-clube na hora em que ele se balançava em um para-quedas de competição como se fosse uma cadeira do papai. O Júnior tem uma vida com poucas ambições, mas dedica-se a transformar vidas. E consegue. Com sua palavra firme e sincera, com seus valores arraigados e constantes. O Tom tem sido um gigante em sua luta, levou muita porta na cara, mas continua resistindo e crescendo. O Rui talvez pudesse fazer mais, mas é um sobrevivente, com certeza. Alberto realiza e pouco usufrui. O Márcio, por pura insistência está terminando o curso de psicologia sem muito gostar. Cada um de nós tem suas realizações, mas talvez ainda pensemos que fazemos pouco, porque para nós seria importante colher bons frutos de nosso esforço. Essa é uma discussão antiga entre nós. Mas penso que é importante deinir objetivos. Esquecer o medo do fracasso. Estabelecer um caminho, passo após passo, com cuidado, para podermos chegar a algum lugar. Penso que precisamos perder o medo do que vão pensar e sairmos de mansinho em um caminho novo e desejável, correndo riscos. Sei que não sou exemplo para ninguém, mas tinha muita dificuldade com minha natureza expectadora, nunca sabia fazer nada, porque tudo era feito melhor pelos outros. Então resolvi tirar algum proveito de morar no fim do mundo, aí eu comprei um fusca. Com o fusca eu comecei a desejar fazer algumas viagens, mas tinha medo, viajar de carro era algo complicado na minha cabeça. Então comecei a dirigr pela estrada do aeroporto e me imaginava em uma rodovia. Depois me arrisquei a ir até Guajará-Mirim, de comboio com um colega do Tribunal. O carro dele ficou na estrada, o meu chegou direitinho. Já conseguia viajar 360 Km. Então me arrisquei com o fusca a partir para Cacoal, 400 Km, de noite. E descobri que viajar de noite é muito arriscado. Então troquei de carro e continuei treinando. Na hora de fazer uma viagem longa planejei seis meses. Com o mapa da Quatro Rodas vi que o Brasil é muito maior que eu, mas na hora do medo eu entendi que bastava eu imaginar uma viagem curta por dia. Fazendo entre 800 e 900 Km por dia rodei até Belém, enfrentei Ibiapaba e cheguei a Itapipoca. Fui e voltei de Mossoró. Encarei o trânsito de Fortaleza sozinho para procurar camarão. Rodei o litoral até a Bahia. Passei por Brasília e voltei para casa. 15.000 Km em uma única viagem. Eu precisava fazer algo assim para vencer o medo de realizar coisas. Precisamos agir assim para realizar coisas. Admiro a coragem do Rodolfo em ter ido morar na Bahia, lugar que nunca imaginávamos, e sempre me alegro com seu sucesso. É por aí que as coisas acontecem. No fim a gente descobre que o sucesso não existe, ele precisa ser confeccionado, precisa ser forjado, moldado a cada dia, com muita força. Temperado com altas doses de pressão, azeite e calor. Só assim ele acontece. Mas depois que acontece ele passa, e precisa ser refeito, com mais luta, mais azeite e mais pressão. Meus caros irmãos e familiares. Não tenham medo de realizar, nem deixem que os pensamentos e as barreiras auto-impostas sejam mais fortes que sua ambição. Transformem idéias em ações, passo a passo, a cada dia, porque o tempo passa para todo mundo, para quem fez, para quem não fez. Para quem constrói e para quem se acomoda. E quando o tempo se vai, não dá para resgatar mais. Um abraço.